Plantonistas expõem problemas na maternidade do HSS e anunciam paralisação

Número reduzido de médicos representa grande risco para a segurança das gestantes e recém-nascidos

Plantonistas expõem problemas na maternidade do HSS e anunciam paralisação

Em uma carta contundente dirigida a diversas autoridades e à imprensa, a equipe de plantonistas da maternidade do Hospital São Sebastião (HSS) anunciou uma paralisação a partir de 25 de maio de 2024. A decisão, tomada após meses de advertências e solicitações não atendidas, destaca problemas estruturais e operacionais que comprometem a segurança e a qualidade do atendimento às gestantes e recém-nascidos.

No final de abril, o alerta foi endereçado ao Ministério Público de Minas Gerais, à administração do HSS, aos diretores técnico e clínico do hospital, à Secretaria de Saúde de Viçosa, à Superintendência Regional de Saúde e ao Conselho Regional de Medicina. No documento, os médicos expressam profunda preocupação com a situação da maternidade, mencionando a falta de recursos humanos e equipamentos essenciais como fatores principais para a decisão de paralisar as atividades.

Os plantonistas relatam que a falta de pelo menos dois obstetras por plantão tem levado a uma sobrecarga insustentável. Atualmente, apenas um médico é responsável por atender gestantes de aproximadamente nove municípios da microrregião de Viçosa, durante turnos de 12 horas. “Esse cenário tem resultado em superlotação e na incapacidade de atender adequadamente à demanda”, diz a carta.

Segundo os plantonistas, a situação é exacerbada durante procedimentos cirúrgicos, como cesarianas, que demandam cerca de uma hora para serem concluídos. Durante esse período, o restante da maternidade fica desassistido, expondo gestantes e recém-nascidos a riscos significativos. “Essa lacuna na cobertura médica representa um grave risco para a segurança e o bem-estar das gestantes e recém-nascidos, expondo-os a potenciais complicações que poderiam ser evitadas com uma adequada estrutura de atendimento”, destacam os médicos na carta.

Outro ponto crítico levantado na carta é a precariedade dos equipamentos. A maternidade conta com apenas um cardiotocógrafo, aparelho essencial para monitorar a saúde fetal durante a gravidez e o parto, que frequentemente apresenta defeitos. Além disso, há falta de um monitor multiparamétrico de adulto, necessário para viabilizar as analgesias de parto, e de exames de ultrassonografia obstétrica diários, que são cruciais para diagnósticos precisos e intervenções oportunas.

Os plantonistas também denunciam a insegurança financeira e os atrasos recorrentes nos pagamentos. Segundo eles, há mais de um ano e meio a equipe não recebe pelos partos e cirurgias realizados, o que tem impactado significativamente as condições de subsistência dos profissionais.

Os profissionais enfatizam que a situação atual não é apenas uma questão de condições de trabalho inadequadas, mas de uma ameaça direta à vida e saúde dos pacientes. “É inviável prestar assistência ao binômio materno-fetal sem o mínimo de monitorização necessária e sem a garantia de remuneração pelos serviços prestados”, afirmam.

A equipe ressalta que, caso todas as adequações não sejam realizadas, a paralisação será mantida por tempo indeterminado. “Estamos abertos ao diálogo e esperamos que este comunicado sirva como um ponto de partida para a resolução dos impasses enfrentados pela maternidade”.

Ao Folha da Mata, o diretor-administrativo do hospital, Ronaldo Oliveira, disse que as demandas estão sendo atendidas. “Encaminhamos um ofício aos plantonistas pontuando as ações que estamos fazendo para equacionar as questões apresentadas e aguardamos uma avaliação da equipe médica”, declarou.