Passagem das Nove Cruzes ainda está sem solução

Iniciada e paralisada a um custo total de 375 mil, a estrutura, hoje, não sai por menos de 2,5 milhões. Só que não há recursos

Passagem das Nove Cruzes ainda está sem solução
A “carcaça”, pelo menos, alerta os menos avisados do “fim da linha”. Do lado oposto, e mais íngreme, nenhuma sinalização
Passagem das Nove Cruzes ainda está sem solução

Na madrugada de 31 de janeiro de 2012, um forte temporal desabou em Viçosa provocando estragos em vários pontos da cidade. Na hoje avenida São João Batista, a força das águas foi tanta que deixou suspensos os trilhos da desativada linha férrea nas localidades conhecidas como Pacheco (entre os bairros Vale do Sol e Nova Era) e Nove Cruzes (entre os bairros Cidade Nova e Laranjal), impedindo completamente a passagem de moradores, inclusive a pé. O primeiro trecho já passou dor duas intervenções. Uma, agora, em fase de acabamento. Já nas Nove Cruzes, entre o Bahamas Mix (denominada também rua Santa Cruz) e o Abatedouro Pif Paf (Rua Sebastião Maria), a situação é diferente: no próximo dia 31 serão 13 anos de espera.

No início, a distância entre as duas margens era de poucos metros e várias pinguelas feitas por moradores e destruídas a cada chuva mais forte, resolvia a situação, de forma paliativa, dos pedestres. Nesta época, uma intervenção rápida resolveria o problema. Isso não aconteceu e o tempo se encarregou de piorar a situação. Outros temporais, encontrando o caminho livre, foram desbarrancando o terreno em torno da rede de água pluvial fazendo com que as manilhas ficassem suspensas até se soltarem completamente, deixando livre o espaço para novas erosões.

No mês de agosto de 2021, a esperança renasceu nos moradores. Foi afixada no local uma placa de obras com os dizeres “Reconstrução de bueiro metálico corrugado”, seguido do preço da obra de R$375.933,50, com recursos próprios do Município).  Também estipulava prazo de 90 dias, com início dos trabalhos em 13 de setembro daquele ano. A placa ainda está lá como testemunha do descaso. Sem nenhuma serventia, o espaço foi tomado pelo matagal que oferece abrigo para animais peçonhentos, mosquitos da dengue e outros perigos para quem mora na redondeza. Sem nenhuma sinalização, o imenso barranco da margem ao lado do bairro laranjal é outro convite a acidente.

Logo que a empreiteira contratada deu início à preparação do local para início dos trabalhos, começou uma queda de braço com o Município.  De um lado a Prefeitura acusando a empreiteira de não cumprir o contrato; do outro, a construtora que afirmava que o Município foi omisso com suas obrigações; no meio, a comunidade, principalmente do Bairro São José (Laranjal) que, na época, esperava há 11 anos, reclamava por uma solução por parte das autoridades Municipais. A construção da passagem sobre o Ribeirão São Bartolomeu, onde passava a antiga linha férrea, no trecho conhecido por Nove Cruzes, continua paralisada e, pelo visto, a população vai ter que esperar mais um pouco, ou talvez, muito, para ver concluída a obra que vai beneficiar toda a vizinhança dos dois lados da futura passagem.

Em uma reunião realizada no salão nobre da Prefeitura, em 10 de setembro de 2021, entre outros assuntos, foi levantada a questão da drenagem do terreno e a retirada de terra para o aterro da obra, serviço que inicialmente não estava previsto no contrato, mas que a empresa se comprometeu a realizar, mediante o pagamento pelo trabalho. Para isso, o diretor de Obras terceirizadas da PMV, José Mariano, sugeriu que a empresa fizesse um levantamento dos “erros” encontrados no projeto para apresentá-los à Secretaria de Finanças. A princípio, foi apresentado um reajuste de R$38 mil para o projeto e o secretário de Obras, José de Arimathea Silveira Marques foi taxativo: “ não é necessário descobrir quem foi o responsável pelos erros encontrados, neste momento deve-se solucionar os mesmos”. Sobre a drenagem, o secretário falou que, dependendo, a própria secretaria de Obras tinha capacidade de realizar o trabalho.

Além do Secretário e do diretor, tiveram presentes Ruan Diego E. Ferreira (Domínio Engenharia Arquitetura e Construção Ltda - vencedora da licitação); Magno Vicentini Portilho, engenheiro civil; Reinaldo Lopes de Souza Leite, secretário de Governo; Luís Costa Lopes da Silva, secretário de Finanças; George Gleidson Frota Aragão, projetista do Geoplam (Geoprocessamento, Planejamento e Meio Ambiente do Município de Viçosa); e o vereador Marco Cardoso (Marcão do Paraíso). 

Já no início de 2022, o próprio Arimatheia falou que a paralisação da obra era culpa exclusiva da empresa e que o contrato estava em via de ser reincidido, uma vez que ela não vinha cumprindo o compromisso assumido e pedido readequação (alinhamento de preço) do contrato antes mesmo de começar a obra. Em resposta, Ruan chamou de mentirosa a declaração do secretário e garantiu ter documentos que comprovavam o seu empenho junto aos responsáveis pela administração da Prefeitura, para sanar as pendências relativas ao contrato de reequilíbrio (firmado em junho de 2021) e não cumprido pelo referido secretário: “sempre procurei atender as solicitações e aceitar diversas situações para que a obra pudesse ser realizada, por entender que se trata de uma obra de suma importância para a população daquela região. ”, pontuou na ocasião, lembrando que desde outubro de 2021 não havia recebido nenhum recurso relativo à obra. Aí, a obra parou de vez e a solução do problema ficou cada vez mais onerosa.

Algum tempo depois, em reunião realizada em 11 de março do ano passado (2024), com participação do atual secretário de Obras, André Luiz Silva Ricardo, do diretor do Geoplam (Geoprocessamento, Planejamento e Meio Ambiente do Município de Viçosa), Douglas Ferreira Silva, do pároco da Paróquia São João Batista, padre Geraldo Martins Dias, e representantes de moradores dos Bairros São José (Laranjal), para tratativas sobre o início das obras na localidade de Pacheco, foi também levantada a questão daquela passagem.  Na oportunidade, o diretor do Geoplan disse que tinha modificado o projeto da ponte do Laranjal (Nove Cruzes), reduzindo o custo para R$2,5 milhões (o anterior ultrapassava a 3 milhões), mas que o Município não tinha recursos para tocar a obra e o Município iria recorrer a emendas parlamentares para aquela finalidade. 

O projeto, realizado pelo Geoplam, prevê uma ponte na largura da via com passeio dos dois lados e um vão de aproximadamente trinta e cinco metros de comprimento. A previsão de sua execução, e de que o valor seja atualizado ou mantido, está atrelada a captação de recursos.