Lequinha condenado a 15 anos pelo assassinato de Carol
O Tribunal de Júri da Comarca de Viçosa condenou na última terça-feira, 15, Alexsandro Miranda Anastácio (Lequinha) 39, pelo assassinato da transexual Carol Rocha, 20, crime ocorrido no dia 27 de janeiro deste ano, no Bairro Inácio Martins (Grota dos Camilos) em Viçosa.
O promotor de Justiça Gustavo Souza Franco pediu a condenação do réu, alegando que Alexsandro agiu de forma premeditada na morte de Carol, enquanto o defensor público, Horácio Vanderlei Tostes alegou que o réu agiu por impulso, sem noção do que estava fazendo, tentando convencer os jurados de que se tratou de uma lesão corporal seguida de morte, o que acarretaria em no máximo quatro anos de detenção. Os jurados ouviram as partes e decidiram que Alexsandro Miranda Anastásio matou Wallace Xisto Rocha (Carol) por motivo torpe, ou seja, crime visto pela sociedade como repugnante e desprezível e consideraram ainda que o réu armou emboscada, premeditando o crime e dificultando a defesa da vítima. Por volta das 18h20, mais de nove horas depois do início do julgamento, o juiz da Vara Criminal de Viçosa, Omar Gilson de Moura Luz, pronunciou a sentença em primeira instância e condenou o réu Alexsandro Miranda Anastácio a 12 anos de prisão e, com os agravantes, majorou a pena para 15 anos.
Por entender que o réu cometeu crime hediondo, em via pública, em plena luz do dia, contra pessoa com quem se relacionou amorosamente por extenso período, com disparo à curta distância no rosto da ofendida, o juiz estabeleceu o regime fechado para o cumprimento da pena.
E por fim, negou-lhe o direito de recorrer da sentença em liberdade, ordenando que ele permanecesse preso.
Os depoimentos das testemunhas
A mãe de Carol disse que sua filha era boa pessoa, trabalhadora, honesta e ajudava a cuidar da avó. Falou que ela e sua família tinham dificuldades em aceitar Carol como mulher, revelando que ela passou a se vestir como mulher aos 13 anos e que Alexsandro não dava sossego a sua filha, ligando várias vezes ao dia, a procurando em qualquer lugar que ela estivesse, acrescentando que sua filha estava sendo ameaçada por ele. No dia do assassinato, Célia informou que se deparou com Alexsandro dentro de sua casa, próximo à janela do quarto de Carol, mas ela teria dito a ele que sua filha não estava em casa. Pouco tempo depois, Carol saiu de casa e logo em seguida foi morta. O advogado de defesa perguntou à mãe de Carol sobre seu outro filho, Wandel e ela informou que ele encontrava-se encarcerado sob a acusação de porte de arma de fogo.
Em seu depoimento a tia de Carol informou que conhecia o réu e que o mesmo fazia uso de cocaína e que já presenciou Alexsandro armado e agredindo sua sobrinha, Carol, acrescentando que no dia do crime, Alexsandro ligou pra ela dizendo que tinha feito “besteira”.
Uma prima de Carol informou que três dias antes do assassinato, Alexsandro esteve na casa da tia de Carol, portando uma arma na cintura e fez ameaças a Carol.
Já a irmã de Alexsandro relatou que ele e Carol brigavam muito e que ela era muito ciumenta. Falou que nos dois relacionamentos anterior a Carol, nunca existiu caso de agressão, nem brigas e muito menos violência, acrescentando que Carol é quem ligava e procurava por Alexsandro.
A mãe de Alexsandro informou que seu filho é uma pessoa boa, trabalhadora e que se afastou até da família por causa da namorada. Disse também que era comum ver brigas entre os dois e que uma vez presenciou seu filho apanhar da namorada, o que foi confirmado por uma segunda testemunha.
O depoimento de Alexsandro
Em seu pronunciamento, Alexsandro confessou ser culpado pelo crime, acrescentando que o namoro dos dois já tinha dois anos e três meses e que ele a tratava como mulher. Disse ainda que a ajudava financeiramente, comprando roupas e pagando despesas e que nos últimos meses Carol estava mudada. Segundo ele, ela começou a mentir e dizia que ia passar a noite na casa dele e que chegaria as sete horas, mas só aparecia por volta das 3 da madrugada e que por este motivo, ligava insistentemente para ela, preocupado. Ele disse ainda que Carol fumava maconha e estava bebendo muito. Ele informou que alguns dias antes do crime sua namorada lhe pediu dinheiro para pagar o álbum de fotografia da formatura que ela tinha participado e acabaram brigando por ele ter revelado a ela que não tinha dinheiro. Na manhã de terça-feira, dia do crime, Alexsandro foi até a casa da mãe de Carol, por volta das 6 horas, entregar o dinheiro que ela havia lhe pedido e ouviu da mãe dela que ela não estava. Minutos depois, já na rua próximo ao ponto de ônibus, Alexsandro disse que Carol foi ao seu encontro, o destratou e, muito nervosa, exigiu que ele lhe entregasse o dinheiro. Dali os dois foram até a rua onde aconteceu o crime. Segundo Alexsandro, ele pegou uma arma e atirou na parede para intimidar sua namorada a qual não desistiu das agressões verbais, quando ele atirou novamente e a acertou, saindo do local. Alexsandro alegou que achara que o tiro havia atingido a vítima de raspão e que somente ficou sabendo que havia matado Carol mais tarde, quando ligou para um tal Flávio. Ele então fugiu para um sítio, em Paula Cândido, onde ficou escondido numa mata comendo frutas por três dias, até ser preso.
Ele alegou estar andando armado por medo de seu cunhado, pois toda vez que brigavam, Carol citava o irmão em tom de ameaça.
O ASSASSINATO
Carol Rocha, 20, foi assassinada por volta das 7 horas de terça-feira, 27, na rua Maria das Neves Costa Amaral, bairro Inácio Martins, em Viçosa. Carol estava caída na calçada, ensanguentada, com as costas apoiadas na parede de um prédio. Segundo informações da Polícia Militar, ela mantinha um relacionamento com Alexsandro Miranda Anastácio (Lequinha), 39, mas eles teriam terminado há cerca de duas semanas e ele não aceitou o fim do relacionamento. Alguns populares escutaram Carol gritando por socorro, correndo pela rua. Ainda segundo testemunhas, Lequinha forçava Carol a lhe abraçar e, depois que ela conseguiu se livrar dele e atravessar a rua, foi alvejada por tiros disparados por uma arma de fogo que ele empunhava. As mesmas testemunhas viram quando Lequinha saiu correndo com uma mochila nas costas em direção a uma trilha que dá acesso ao bairro João Braz e logo em seguida viram o corpo da vítima caído. A polícia foi até a casa de Lequinha, mas ele não foi localizado. Segundo a perícia, um projétil acertou a face da vítima. Anônimos revelaram à polícia que "Lequinha estava obcecado por Carol". Ninguém no local quis se pronunciar sobre o ocorrido. A morte de Carol gerou grande indignação na comunidade. O sepultamento aconteceu na manhã de ontem, quarta-feira, 28, acompanhado por um grande número de pessoas.
A prisão de Alexsandro
Três dias depois de ter assassinado Carol Rocha, 20, na terça-feira, 27, no bairro Inácio Martins (Grota dos Camilos), a Polícia Civil de Viçosa prendeu na tarde de sexta-feira, 30, Alexsandro Miranda Anastácio, conhecido por Lequinha. Em depoimento na Delegacia ele confessou ter matado Carol e informou ainda que no dia do crime teria saído de casa por volta das 5h30 e que pegou uma arma que havia comprado há oito meses, e foi à casa dos pais de Carol. Porém a mãe de Carol teria dito que ela não estava, mas depois de algum tempo viu Carol saindo correndo da casa e ainda que ele a parou e perguntou sobre o término do namoro ocorrido há um mês. Lequinha queria retomar a relação. Ele disse que ela não dava resposta se iria voltar para ele, por isso ele sacou a arma e deu dois tiros nela.
Após o crime que mobilizou muitas pessoas, policiais civis saíram em diligências pela zona rural de Paula Cândido e localizaram Lequinha numa mata fechada no Córrego dos Barros, e foi preso depois que a polícia o cercou. Ele tentou fugir, mas foi capturado e com ele estava a arma usada no crime. Segundo familiares Lequinha já havia ameaçado Carol outras vezes. No dia 25, ele teria mostrado uma arma de brinquedo a Carol, mas segundo Lequinha o objeto foi queimado durante o incêndio na residência de sua avó.
CASA INCENDIADA
A residência onde Lequinha mora foi incendiada horas depois do crime. O imóvel, que pertence a sua avó, localiza-se na rua Novo Horizonte, bairro Bom Jesus, em Viçosa e foi incendiado por volta das 11 horas da manhã de terça-feira, 27. Segundo informações da polícia, o crime é uma retaliação pela morte de Carol. Ainda segundo a polícia, um morador da Grota dos Camilos se mostrou muito exaltado com a morte de Carol e gritou "a polícia não resolve nada. Não esquenta, Wendell, nós vamos cobrar do nosso jeito. Vamos botar pra quebrar hoje. Vai ser de vários calibres. Ele e a família dele vão pagar. E ninguém passa nenhuma informação para polícia. Nós temos nossa própria lei". Momentos depois a polícia foi informada sobre o incêndio na residência da rua Novo Horizonte onde mora uma mulher de 82 anos. Dois quartos e alguns objetos foram queimados (colchões, sofás, televisores, armários e enfeites).
Carol Rocha
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