‘Kanduna Puri’ celebra a cultura indígena da Zona da Mata

Primeira edição do evento aconteceu no dia 15 e evidenciou os saberes ancestrais

‘Kanduna Puri’ celebra a cultura indígena da Zona da Mata

O 1º Kanduna Puri, evento de cultura indígena promovido pela Secretaria de Cultura, Patrimônio Histórico e Esportes da PMV em parceria com o Movimento de Retomada Puri da Zona da Mata, aconteceu no último sábado, 15 de abril. A programação foi realizada na Estação Cultural Hervé Cordovil, no centro de Viçosa, e contou com um número expressivo de participantes; dentre eles, pessoas indígenas do município e da região.

As atividades tiveram início às 14h, com Kanaremunde e uma roda de caboclo. Com a rua da Estação fechada, todos os presentes formaram um círculo ao redor de uma fogueira, no qual foram prestados agradecimentos aos ancestrais e entoados cantos tradicionais ao som de maracás, palmas e percussão.

O evento seguiu para a mesa de abertura com lideranças de Viçosa e da Zona da Mata. Na ocasião, os participantes reforçaram a importância da valorização da cultura indígena, da visibilização de suas pautas e lutas, do reconhecimento enquanto comunidade e da relevância de políticas públicas voltadas para as necessidades dos povos originários. 

Participaram deste momento: Thomas Medeiros, secretário de Cultura; Helenice Puri e Lucineia Martins, lideranças do Movimento Indígena de Retomada Puri Uxo Txori; Danilo Borum-Kren, cacique do povo Borum-Kren; Prof. José do Carmo, historiador especialista em história da África e formação da Zona da Mata Mineira, na perspectiva dos povos indígenas; Prof. Bartomélio da Silva Martins, vereador da Câmara Municipal de Viçosa; José Antônio Silvério e Alexandre Antônio Anacleto Andrade, lideranças da comunidade de Samambaia; e Lúcia Batista, professora e membro do Movimento Indígena de Retomada Puri Uxo Txori.

Finalizada a mesa, o público do 1º Kanduna Puri foi convidado a participar de uma atividade dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas: cabo de força. Duas equipes ficam em cada lado de uma corda, puxando-a com força, e ganha a que trouxer para o seu campo o galho amarrado no meio do cabo. A ação foi sucesso principalmente entre as crianças, que se empenharam em mais de uma revanche.

A mesa de partilha de alimentos tradicionais da cultura puri foi, também, um momento muito forte. Sucos, broas, ovos, chás, frutas e legumes diversos foram servidos. Para Carolina Santos (Miri Ponan Puri), membro do Retomada Puri, a ação foi uma das mais importantes do Kanduna, devido à preparação do cardápio, pensado com ancestralidade e afetividade, e ao simbolismo: “Foi um processo que envolveu muitas pessoas, muitas mãos construindo isso, desde os parentes de Fervedouro que vieram, que puderam contribuir com a partilha… Tudo ali tinha uma conexão muito forte; a comida, o alimento, é muito importante pra gente, principalmente quando ele vem da terra”, comenta.

O Kanduna Puri contou, ainda, com um espaço para compra e venda de artesanato indígena, incluindo peças como brincos, colares, filtro dos sonhos, cestas e objetos decorativos. Entre os momentos de fala e discussões do evento, a Estação foi embalada por uma playlist de músicas de cantores indígenas, pensada pelas irmãs Heloisa e Helena Puri especialmente para a ocasião. Ao decorrer do evento, em uma ação da Secretaria de Saúde de Viçosa, também foi disponibilizada uma tenda para vacinação indígena. Após preencher a autodeclaração, os indígenas presentes puderam se vacinar com a vacina bivalente contra a Covid-19 e contra a influenza.

Outro ponto de destaque do Kanduna foi a oficina de cestaria, ministrada por José Maria Pedro (Zé do Bambu). Considerado um dos mestres da cultura do artesanato, Zé ensinou os participantes a produzir um cesto utilizando pedaços de bambu. Dezenas de pessoas iniciaram suas cestinhas e puderam até levar para casa para finalizar. O forte engajamento do público trouxe muita alegria para a atividade, que reforça a importância de preservar e dar continuidade aos saberes ancestrais, muitos dos quais se aprende somente com a prática.

A noite no 1º Kanduna Puri teve início com a apresentação da peça de teatro "Raiz Conta: Casca, Origem e Tempo", da dramaturga Adryana Ryal Puri. Baseado em dois poemas da atriz, o drama busca traçar, de formas metafóricas, críticas à chamada nova era, instaurada pelo vazio, desmatamento, doenças e caos. A personagem, Raiz, conta seus lamentos e saudades, na esperança de ser ouvida por alguém. Com o auditório da Estação lotado, Raiz notoriamente envolveu o público, que não queria que a peça acabasse.

Encerrando a programação, foi promovido um cine-debate com o filme “Brotos Originários”, da diretora Priscila Aguiar. O minidocumentário aborda narrativas e memórias ancestrais do povo Anapuru Muypurá, da região do Baixo Parnaíba Maranhense, contadas pelas suas ditas "sementes teimosas", que estão em processo de retomada de seu território, em uma realidade semelhante à vivida pelos integrantes do Movimento de Retomada Puri.

A primeira edição do Kanduna Puri foi realizada e finalizada com ótima energia, como uma oportunidade de compartilhamento, valorização, reconhecimento e compreensão da cultura indígena da Zona da Mata Mineira e, como sugere o nome do evento em sua tradução para o português, um acendimento do povo puri. “Há muito tempo as resistências já aconteciam, já se faziam, mas quando a gente traz isso pro coletivo, a gente vê que o negócio quase pega fogo de verdade; é uma energia muito forte, da gente junto”, afirma Carolina

 


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