Prefeitura, Saae e UFV se planejam para enfrentar nova crise hídrica em 2016

Gestores das três instituições concederam entrevista coletiva conjunta

Prefeitura, Saae e UFV se planejam para enfrentar nova crise hídrica em 2016

Na tarde da última segunda-feira, 16, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) do município e o setor de Água e Esgoto da Universidade Federal de Viçosa (UFV) promoveram uma coletiva de imprensa conjunta para tratar da crise hídrica. Na oportunidade, os gestores e técnicos responsáveis pelo abastecimento, tanto na cidade quanto na instituição de ensino, apresentaram as medidas que foram tomadas para diminuir os impactos da crise hídrica e anunciaram novas ações, inclusive a nova escala de racionamento, que entrou em vigor nesta terça-feira, 17. O evento foi realizado na sala de reuniões da autarquia municipal.
O diretor geral do Saae, Rodrigo Bicalho, iniciou a coletiva destacando o contexto atual da cidade, que vive uma escassez de chuvas e está há 24 anos sem investimentos nas estações de tratamento de água (ETA I, Rua do Pintinho – Bela Vista, e ETA II, Violeira). Rodrigo também citou a existência, em Viçosa, de uma restrita capacidade de reserva de água, além da necessidade de melhorias na distribuição da água.
Em seguida, o diretor fez um apanhado geral das medidas que já foram executadas pela autarquia e pelo executivo municipal.

AÇÕES EXECUTADAS - Segundo Rodrigo Bicalho, uma das primeiras medidas tomada pelo Saae e pela PMV foi a elaboração do plano de contingência, em outubro de 2015, que contou com a formação de uma comissão especial de acompanhamento da crise hídrica - composta por representantes do Saae, Defesa Civil, Câmara Municipal, UFV, Corpo de Bombeiros, Polícia Miliar e Polícia Militar do Meio Ambiente; a assinatura, junto ao executivo, do decreto 4891/2015 e da Lei 2515/2015, além da implantação do racionamento de água. A autarquia e a Prefeitura também realizaram o mapeamento das regiões críticas de abastecimento e a estimativa da população desses locais; suspensão da realização de novas ligações de água pelo Saae; reforço na fiscalização, dando aos fiscais da Prefeitura as mesmas atribuições do pessoal do Saae para efetuar multas; apoio das polícias Militar e do Meio Ambiente, do Corpo de Bombeiros e de agentes do Departamento de Trânsito no monitoramento dos casos de desperdícios; suspensão das festas ou eventos, independentemente da quantidade de público, que tenham banho de lama, espuma, tintas e similares ou qualquer outra atração que consuma água; suspensão de lavagem de automóveis em postos de gasolina e lava-jatos e orientação para suspensão voluntária do uso de água de poços semiartesianos, artesianos ou água de reuso para essa atividade; revisão da multa por desperdício; e realização de vistoria em órgãos públicos para detectar a presença de vazamentos.
Bicalho também citou a obra de construção de uma adutora que interligou a estação de tratamento de água da Violeira (ETA II) à rede que abastece o centro da cidade, promovendo a equalização da pressão no sistema de distribuição e facilitando a chegada da água em bairros altos. Ele explicou que a ETA II abastece principalmente a zona norte da cidade, porém, o Rio Turvo - de onde essa estação capta água para tratamento - possui vazão abundante, sendo capaz de abastecer toda a cidade. "O objetivo da interligação foi aproveitar melhor a capacidade desse afluente, que mesmo em períodos de seca, se comporta relativamente estável se comparado ao ribeirão São Bartolomeu, que abastece o centro, a zona sul e os bairros altos", esclareceu o presidente da Autarquia.

MEDIDAS FUTURAS
Um dos anúncios transmitidos à imprensa foi a conclusão dos estudos feitos pelo SAAE para a ampliação da capacidade de reserva de água no município. Rodrigo disse que foi feito um estudo topográfico que apontou algumas áreas potencialmente apropriadas para construção de novas represas, cujas localizações a autarquia preferiu não divulgar no momento. Segundo Bicalho, o SAAE almeja, com a construção das novas represas, um aumento da capacidade de reserva dos atuais 149 milhões de litros para 225 milhões de litros de água. Somente o projeto de construção das barragens e licenciamento ambiental foi estimado em 290 mil reais. Contudo, atendendo a um pedido da administração municipal, a UFV se comprometeu a avaliar a possibilidade de utilizar seu corpo técnico para elaborar o projeto e doá-lo ao município, que ficaria por conta da construção das represas.
O município também já avançou no projeto de reforma e ampliação da ETA II, que visa um melhor aproveitamento da abundante oferta de água do Rio Turvo. A proposta é ampliar a capacidade de tratamento dessa estação de 100 litros por segundo (l/s) para 220 litros por segundo (l/s) com substituição de equipamentos e construção de novas instalações. A obra foi orçada em 2,3 milhões de reais e a previsão é que as alterações sejam concluídas antes do segundo quadrimestre de trimestre de 2017.

UFV
Representando a UFV, estiveram presentes a pró-reitora de Administração, Professora Leiza Maria Granzinolli e o engenheiro ambiental da Divisão de Água e Esgoto da UFV, João Pimenta, que apresentaram as medidas já adotadas pela instituição e o que vem sendo planejado.
Segundo eles, desde 2014, a UFV vem adotando medidas que já resultaram em uma redução significativa do consumo de água no campus. Dentre elas, estão a implementação de hidrômetros nos prédios que mais consomem água, para identificar as perdas; a adoção da cobrança do serviço de água em unidades terceirizadas do campus; o uso de água não tratada em atividades de construção e manutenção de imóveis e a substituição de destiladores por purificadores nos laboratórios. A universidade também elevou em 50 centímetros do vertedouro da represa localizada em frente ao Supermercado Escola - aumentando a capacidade de reserva de água em 12% para o fornecimento à cidade e ao campus -, promoveu perfuração de três poços artesianos, alterou o cardápio no Restaurante Universitário, reduziu o horário de funcionamento da biblioteca central, suspendeu as reservas no Hotel do Centro de Ensino de Extensão (CEE) e as atividades na piscina do Diretório Central dos Estudantes (DCE), além de realizar o rodízio de abastecimento de água em setores do campus.
João Pimenta também trouxe ao público presente os desafios do trabalho realizado pela UFV no enfrentamento da crise hídrica. Para o aumento da oferta de água no campus, a instituição pretende dar ênfase à interligação dos novos poços na rede de distribuição e à implementação de tratamento de efluentes, além de efetivar um grupo de trabalho UFV-Saae para intervenções na bacia, viabilizações de novas capacitações e o aumento da capacidade da reserva. "A UFV também visa aumentar o uso de água não potável, tornando o reuso obrigatório em novas edificações, viabilizando uma rede para irrigação e elaborando procedimentos padronizados para obras dentro da instituição, além de trabalhar na implementação de práticas de recuperação e uso adequado do solo da UFV" disse o engenheiro.
Continuando, João Pimenta explicou que já para a diminuição do consumo, a instituição quer intensificar e tornar rotineiras campanhas de combate a vazamentos e intensificar e tornar perenes ações de comunicação para a redução do consumo. O órgão também deseja realizar estudos e parcerias para redução do consumo em locais específicos, como o hotel, piscina, vestiários, restaurantes e moradias estudantis, além da adoção de equipamentos economizadores de água e “cotas” de consumo para cada edificação. Outro plano é a construção da Unidade de Tratamento de Resíduos e Reuso da água na ETA-UFV.
Durante a apresentação, a pró-reitora Leiza também ressaltou o que, na concepção dela, é fundamental para o enfrentamento da crise, além de todas essas medidas: a conscientização da população e maiores investimentos para a recuperação da bacia do São Bartolomeu.

Novo racionamento de água já está em vigor
O baixo nível dos reservatórios fez o Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Viçosa (Saae) retomar o racionamento de água na última terça-feira, 17. Com a medida, cada bairro terá o abastecimento interrompido por 24 horas por semana.
De acordo com o Saae, a vazão do Ribeirão São Bartolomeu, que abastece o reservatório, está muito abaixo do normal, comprometendo o nível da represa que está com menos de 60% da capacidade.
O racionamento começará às 7h30 e vai até 19h30 e o restabelecimento do fornecimento de água em toda extensão da rede pode demorar até 24 horas. Por isso, o órgão pede que os moradores economizem água.
A escala de racionamento pode ser conhecida na página ao lado.