Pronto Atendimento do Hospital São João Batista fica fechado por três horas
O fechamento por 3 horas do Pronto Atendimento e ameaça de fechamento do CTI do Hospital São João Batista preocupam a comunidade de Viçosa
Na manhã da quinta-feira 16, o Setor de Pronto Atendimento (PA) do Hospital São João Batista em Viçosa (HSJB) ficou fechado por quase três horas, devido à falta de materiais básicos e essenciais ao atendimento dos pacientes.
O burburinho sobre a interrupção de atendimento em setores do hospital se espalhou rapidamente pelas redes sociais, mas o diretor Administrativo do Hospital, Sérgio Pinheiro, amenizou o problema informando que apenas o PA ficou sem atendimento por algum tempo devido à falta de alguns materiais básicos.
Sérgio explicou que, apesar de os estoques estarem baixos no almoxarifado, os materiais estavam disponíveis em outros setores do hospital e uma equipe ficou responsável pelo recolhimento para que os atendimentos fossem restabelecidos.
O diretor do Hospital também informou que, mesmo com a falta de materiais, o médico plantonista permaneceu no hospital para atendimentos de casos de extrema urgência.
Suspensão de atendimento em 2016
Por trás dessa precarização e improvisação no atendimento do HSJB, a exemplo do que vem ocorrendo em hospitais conveniados de todo o país, está a falta de reajustes nos repasses do SUS para as internações hospitalares e todos os demais serviços cobertos pelo convênio.
Em meio a uma crise, em meados de 2016, a administração do Hospital São João Batista (HSJB), por causa de dificuldades financeiras, foi obrigada a apelar pela restrição de alguns serviços e pela suspensão total de outros no setor de Pronto Atendimento.
Naquela época, em correspondência enviada no dia 26 de setembro a secretários dos municípios que compõem a região de saúde de Viçosa e a autoridades estaduais, a direção do hospital apontava que vinha constantemente tentando, sem sucesso, um posicionamento da Comissão de Avaliação do Contrato, mediante a ampliação do atendimento, principalmente de pacientes de clínica médica e ortopedia, que normalmente gera internação de maior permanência, o custo vem aumentando drasticamente.
De novo o “dedo na ferida”
Pouco tempo depois, no final do ano passado, em entrevista ao Folha da Mata, Sérgio Pinheiro voltou a criticar a falta de apoio dos governos ao hospital e a omissão da Comissão de Avaliação do Contrato do HSJB com o SUS. Na entrevista, ele diz que “Devido à inoperância da Comissão, nenhum relatório foi apresentado no período e por isso não houve revisão dos valores. Vale ressaltar que de 2013 a 2016 o Hospital São João Batista, de modo geral, teve um aumento no atendimento entre 50 e 60%, sem ter nenhum incremento no valor recebido. O hospital teve sua situação agravada, pois, mais atendimento representa mais gasto com medicamentos, honorários, exames, alimentação, energia elétrica, funcionários entre outros”.
Sobre a contribuição do Governo do Estado, Sérgio disse que “O HSJB integra o Programa de Fortalecimento e Melhoria da Qualidade dos Hospitais do SUS/MG (PRO-HOSP), criado para transferir recursos a determinados hospitais, desde 2005. Até 2012 os recursos direcionados ao hospital eram calculados de acordo com a população da Região de Saúde (microrregião). A partir de 2013 o critério de alocação desses recursos foi alterado, passando a ser calculado de acordo com o desempenho dos hospitais no ano anterior, considerando o número de internações e o número de leitos efetivamente ocupados. Mas, a partir de 2015 o Governo não mais atualizou a série histórica para a definição dos valores, que ficarão congelados até os primeiros quatro meses deste ano. “Já pedimos a atualização da série histórica para apuração dos valores do PRO-HOSP ao Governo do Estado, mas não obtivemos sucesso”, disse Sérgio.
Último reajuste federal há 12 anos
Em relação à contribuição do Governo Federal, Sérgio Pinheiro disse que o último reajuste na tabela do SUS ocorreu em 2004. Ele explicitou que para uma consulta de pronto atendimento o SUS paga ao hospital apenas R$ 2,28. Esta consulta custa em torno de R$ 60,00 para o HSJB. Além de não corrigir a tabela do SUS, o Ministério da Saúde também não atualiza a série histórica para apuração dos valores referentes ao Incentivo de Qualificação da Gestão Hospitalar. A atualização da série histórica é muito importante para fazer justiça com as instituições que melhoraram o desempenho. “Nós, gestores de hospitais filantrópicos, temos reivindicado ao Ministério da Saúde a atualização, mas a única resposta é que não há discussão sobre a revisão da série histórica”, lamentou o diretor.
Recursos novos
Sérgio disse também que “sabemos que na situação atual não existe recurso novo, mas o que pleiteamos são as atualizações, nas esferas Municipal, Estadual e Federal, das séries históricas para apuração dos valores, hoje baseadas nos anos de 2011, 2012 e 2013. Pleiteamos ainda que seja realizado, se for o caso, o remanejamento de recursos entre as instituições de forma a contemplar o desempenho do hospital. A não atualização das séries históricas penaliza os hospitais que vêm melhorando seu desempenho, como é o caso do HSJB, e premiando os que, por ventura, possam estar em queda nesse desempenho.
Sérgio concluiu a entrevista pedindo a ajuda de quem possa interessar no sentido de sensibilizar os responsáveis pelos órgãos e setores ligados à saúde para que revejam as suas posições. “Não estou aqui mendigando recurso e sim clamando por justiça e reconhecimento à melhoria dos serviços prestados pelo Hospital São João Batista de Viçosa, nos últimos anos”, desabafou Sérgio Pinheiro.
CTI
Mas, se a situação já está ruim a tendência é a de que ela piore ainda mais. Na reunião dos vereadores dessa terça-feira, 21, foi lida uma correspondência encaminhada pelo médico Fernando Fonseca dos Reis, coordenador da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital São João Batista. Apesar do documento não ter sido assinado pelo médico, nele está explícito que a partir do próximo dia 24 de março a equipe médica chefiada por ele encerrará as atividades no setor por falta de pagamento de honorários, de medicamentos e de materiais essenciais para o tratamento dos pacientes internados na UTI.
O coordenador avisa que após o dia 24 de março serão interrompidas as internações e os leitos serão desativados assim que todos forem desocupados, com o consequente fechamento da UTI. Ele ressalta que até a data informada os pacientes em tratamento continuarão a receber os cuidados necessários até que eles tenham condições de alta para enfermaria ou transferidos para outras UTIs.
Ainda de acordo com Fernando Fonseca, no dia 24 de outubro de 2016 a direção do hospital fez um acordo de pagamento que não foi cumprido.
O diretor Administrativo do São João Batista, Sérgio Cardoso Pinheiro, disse já estar ciente da decisão da equipe que atua na UTI do hospital. A direção vai se reunir para avaliar a situação.
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