Pesquisa revela que degelo na Antártica vai reduzir chuvas no Brasil
O professor Flávio e a simulação de mudanças climáticas globais caso ocorra o degelo na Antártica
Na semana em que a Conferência Mundial sobre Clima, realizada no Peru, termina sem grandes avanços na política de redução na emissão de gases do efeito estufa, a ciência dá mais um passo para mostrar a urgência em conter a ritmo do aquecimento global. Um artigo publicado numa das mais importantes revistas científicas do mundo sobre o tema, a Journal of Climate, nos EUA, mostra que o degelo na Antártica pode mudar o padrão dos ventos no hemisfério sul e interferir na quantidade de chuvas em todo o mundo e particularmente no sudeste do Brasil.
O artigo “The Large-scale Climate in Response to the Retreat of the West Antarctic Ice Sheet” tem como primeiro autor o professor do Departamento de Engenharia Agrícola da Universidade Federal de Viçosa Flávio Justino e foi escrito em parceria com pesquisadores da Itália e da Noruega. O professor Flávio explica que a porção a oeste da península Antártica, que corresponde a 30% de todo o gelo da região, não se apoia sobre solos e é mais sensível ao derretimento. Os pesquisadores já sabem que esta porção da calota polar está derretendo. Em 2014, o ritmo de degelo foi o maior dos últimos anos. O artigo mostra as consequências globais do derretimento usando modelagem matemática, uma técnica capaz de cruzar milhares de dados climáticos para predizer o futuro.
“O derretimento do gelo muda o perfil dos ventos e enfraquece os sistemas de frentes frias geradas a partir da Antártica e que provocam as chuvas, sobretudo no hemisfério sul”, diz Flávio Justino. Como o clima do planeta é integrado, espera-se mudanças também em outras regiões. O professor explica ainda que esta porção da Antártica já derreteu há um milhão de anos por fatores naturais. Agora, as causas são antropogênicas e o ritmo do degelo vai depender do aquecimento global.
A pesquisa utiliza dados de satélite e modelos climáticos usados em todo o mundo. A Antártica é sempre usada como referência para estudos do clima porque é onde as primeiras mudanças são mais facilmente perceptíveis e os dados podem ser usados para modelar efeitos em outras partes do globo. O artigo já está disponível na revista online e será publicado em breve em edição impressa. A Journal of Climate é a revista científica mais importante do mundo para publicação de artigos sobre clima.
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