Cajuri terá trem turístico entre a cidade e o Sapé
As duas pequenas composições estão assentadas nos trilhos, no centro de Cajuri e futuramente poderão ser usadas como trens turísticos, levando passageiros do centro até a comunidade do Sapé
A cidade de Cajuri teoricamente protagonizou, no último sábado, 20, um momento histórico para os entusiastas e defensores do transporte sobre trilhos. Os representantes do Circuito Turístico Serras de Minas anunciaram que o evento simbolizou o início dos trabalhos de reforma da “Linha Mineira”, uma ferrovia de 384 km de extensão que liga Mariana a Além Paraíba.
O destaque da cerimônia foi a chegada de uma pequena composição ferroviária, da década de 1950, que será usada para a reforma das linhas. As duas máquinas manobreiras (locomotivas) e o vagão, recuperados e doados pelo SESC (Serviço Social do Comércio), ficarão em Cajuri sob a responsabilidade do Circuito Turístico Serras de Minas.
As máquinas foram doadas, mas o transporte delas de Grussaí, distrito de São João da Barra (RJ) até Cajuri foi orçado por R$ 120 mil, que, conforme fontes ouvidas pelo Folha da Mata, terão de ser pagos pelo Circuito Turístico Serras de Minas, para quem foi emitido o boleto de cobrança.
De acordo com o presidente do órgão, Jershon Morais, o vagão será usado como um escritório, em Cajuri, e as máquinas manobreiras serão levadas para Coimbra e Teixeiras, onde serão usadas no trabalho de reforma e troca de componentes.
O evento contou com a presença de prefeitos da região e autoridades estaduais, como o deputado João Leite (PSDB), que é presidente da Comissão Extraordinária Pró-Ferrovias Mineiras na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Em seu pronunciamento, o parlamentar destaco a luta de ativistas: “O que se inicia aqui hoje é resultado de uma luta de pessoas que nunca desanimaram, nunca desistiram. Foi através dessa luta que conseguimos mudanças na legislação estadual e criamos a superintendência ferroviária”, lembrou o deputado.
Durante a cerimônia, foi anunciado que a Linha Mineira levará o nome do arquiteto Aguinaldo Pacheco, que faleceu em 2016. O professor aposentado da UFV era um entusiasta pela volta do trem e desde 1968 defendia projetos de transporte sobre trilhos em Viçosa como uma solução para a mobilidade urbana. A escolha foi feita pelo Núcleo de Preservação Ferroviária de Viçosa.
Deputado João Leite, prefeito Ricardo Andrade, Jershon Morais (sem máscara), prefeito de Canaã José Ivanir e prefeito de Viçosa, Raimundo Nonato, ao fundo, prestigiaram o evento
PEQUENO TRECHO TURÍSTICO
Mas na prática, a realidade é outra. A prefeitura de Cajuri informou ao Folha da Mata que há alguns meses realizou a recuperação de um pequeno trecho de linha férrea, que liga a cidade à Fazenda Nô da Silva, e pretende estender a recuperação da linha até a comunidade do Sapé.
A segunda fase desta obra ainda depende de liberação de R$ 500 mil de recursos do Governo do Estado, o que deverá acontecer por meio de emenda parlamentar. Depois disso, a prefeitura pretende usar as composições ferroviárias para explorar um trenzinho turístico no citado trecho, o que deverá render dividendos turísticos ao município.
INVESTIMENTO ESTRANGEIRO
Jershon Morais informou também que um grupo de investidores estrangeiros denominado Jumbotrilho teria manifestado interesse na recuperação da Linha Mineira, cadastrada como RP-28 no Plano Estratégico Ferroviário de Minas Gerais.
De acordo com o Plano Estratégico Ferroviário de Minas Gerais, a Linha Mineira possui 384 km de extensão e terá paradas em 17 cidades entre Mariana e Além Paraíba. A empresa interessada em recuperar e operar o trecho terá que realizar um investimento de aproximadamente R$ 1,2 bilhão.
Ainda de acordo com Jershon Morais, o grupo estrangeiro estaria interessado em promover investimentos em Viçosa e já teria firmado compromissos para aconstrução de uma escola ferroviária, além de um complexo comercial no bairro Novo Silvestre, composto por shopping, terminal rodoviário, um braço do Hospital do Câncer de Muriaé e hotéis.
O Folha da Mata entrou em contato com um dos proprietários do imóvel onde Jershon anunciou que irá montar o empreendimento no Novo Silvestre e foi informado que, há cerca de dois meses, foi estipulado o valor de aproximadamente R$ 9 milhões para a venda do terreno, quando ficou firmada a compra e fixada a data de pagamento, que já venceu e não foi efetivada.
O QUE DIZ O GOVERNO ESTADUAL
O Folha da Mata questionou a Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade (Seinfra) se já tramita, no órgão, algum pedido de autorização para exploração da Linha Mineira. Em outubro, Jershon Morais entregou, na Seinfra, um pedido assinado pela empresa Arrossi Incorporações e Participações Ltda.
A Seinfra confirmou que a empresa Arrossi, com sede no município de São Bernardo do Campo (SP), encaminhou requerimento pleiteando a outorga de autorização para exploração do transporte de cargas e passageiros no trecho compreendido entre Ouro Preto a Cataguases, passando por Viçosa. No entanto salientou que o trecho solicitado não compreende, integralmente, a proposta RP-28, analisada no âmbito do Plano Estratégico Ferroviário de Minas Gerais.
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