“Bete do Peso” será exibido este mês na ESPN

Na foto, Kiko Molica, Bete Jorge e o Prof. David Montero Gomes

“Bete do Peso” será exibido este mês na ESPN
Maria Elisabete Jorge, conhecida como “Bete do Peso”, foi a primeira levantadora de peso a defender o Brasil em uma Olimpíada. Esse esporte, presente nos Jogos Olímpicos desde o início das competições na Era Moderna, só incluiu a participação feminina em 2000. Divulgar essa modalidade pouco reconhecida no país e resgatar a história dessa brasileira de origem humilde, que chegou a Sydney aos 43 anos de idade e utilizou o esporte para ultrapassar fronteiras sociais, é a proposta do documentário que integra o projeto Memória do Esporte Olímpico Brasileiro. Realizado pelo Instituto de Políticas Relacionais, o projeto tem patrocínio da Petrobras e do Canal ESPN. 
 
SOBRE A PROTAGONISTA 
Maria Elisabete Jorge nasceu em Viçosa,  em 1957. Filha de um antigo funcionário da Universidade Federal de Viçosa (UFV), ela é a segunda filha de uma casa de seis irmãos. Com o pai motorista e a mãe dona-de-casa, Bete teve uma infância simples e foi na escola que começou a se dedicar aos esportes. Começou a correr em 1975, aos dezoito anos e até 1986 se dedicou ao atletismo chegando a disputar importantes maratonas como a São Silvestre. Mas a paixão pelo esporte competia com a necessidade de sobreviver, e entre as competições e treinos, Bete lavava roupas para estudantes, fazia faxina e trabalhava como garçonete em Viçosa, onde vive até hoje. Durante muitos anos, deixou suas roupas de molho ou secando no varal para treinar. 
A história da atleta cruza com a do seu técnico David Montero Gomez, colombiano radicado no Brasil, quando ele chegou a Viçosa no final da década de 1970 para trabalhar como engenheiro civil na UFV. Adepto do levantamento de peso, ele logo cria um local para a prática da modalidade. Os resultados não demoraram a surgir e em pouco tempo Viçosa começou a obter importantes resultados em diversas competições. O núcleo de treinamento que conseguiu criar atletas de altíssimo nível no interior do país acabou se transformando na sede da Confederação Brasileira de Levantamento de Peso.
Foram necessários muitos anos para que Bete perdesse o preconceito e resolvesse praticar o levantamento de peso – o que vem a acontecer em janeiro de 1991 quando já tinha 33 anos de idade e havia encerrado sua carreira de maratonista. A esportista logo mostrou um bom desempenho na modalidade. Em maio de 1992, com pouco mais de um ano de treinamento, ela se torna campeã sul-americana em Santa Fé, na Argentina. Depois disso, vieram muitas vitórias no Brasil e no mundo. Apesar de não ter ganhado nenhuma medalha nos Jogos Olímpicos de Sydney em 2000, sua participação é o momento mais importante da sua carreira. 
Sua conquista do 9º lugar na categoria até 48 kg  mostrou ao mundo que esse não era um universo exclusivamente masculino. 
Nos oito anos que se seguiram à sua participação nas Olimpíadas, Maria Elisabete Jorge se dedicou ao trabalho de treinadora da seleção brasileira de levantamento de peso (feminina e masculina). Ela foi responsável pela participação de alguns jovens em importantes competições, como as Olimpíadas de 2008 em Pequim, quando o atleta também viçosense Wellisson Rosa da Silva encerrou um jejum que manteve a equipe masculina do Brasil fora dessa disputa por doze anos. 
Hoje, a mulher que quebrou paradigmas, superou preconceitos e representou o Brasil em mais de 20 países desempenha um forte papel social, treinando de forma voluntária crianças e jovens. Em um espaço precário cedido pela Prefeitura de Viçosa, Bete treina jovens que moram nos subúrbios da cidade. Seu projeto de construir um centro de treinamento na cidade pode se transformar em referência para o Brasil. Como reconhece a importância do esporte na sua vida e as transformações que ele trouxe, a treinadora pretende mudar outras realidades. 
 
PESQUISA 
O desenvolvimento da carreira da atleta é pontuado no documentário por recortes das manchetes dos jornais Folha da Mata e Tribuna Livre. A imprensa local, que há tempos acompanha a esportista, reflete bem o orgulho e o exemplo de superação que a levantadora de peso representa para a cidade. 
A TV Viçosa, emissora vinculada à universidade, também foi outra fonte indispensável de pesquisa, assim como o Arquivo Central e Histórico e o Laboratório Multimídia de Pesquisa Histórica (LAMPEH) do Departamento de História da UFV. Esse material, além de nortear as entrevistas realizadas pelo diretor, serviu para ilustrar diferentes momentos da carreira da atleta. Imagens oficiais das Olimpíadas de Sydney foram adquiridas para ilustrar o ápice da carreira da atleta.